Não desista da sua genealogia!

Mais cedo ou mais tarde, quem caminha nesta estrada de pesquisar a história da família, encontra puzzles mais complicados ou até mesmo difíceis de resolver. E não me refiro aos fins de linha, que são aqueles antepassados que por mais que queiramos não há nada a fazer, pois a partir de uma certa data já não existem mais registos para pesquisar. Um puzzle é diferente. É um quebra cabeças. É aquele tipo de situação que nos deixa perplexos, sem saber como ultrapassar tal obstáculo. 

Por vezes a informação que encontrámos não bate certo. Outras vezes um documento parece contradizer o outro. Mas muitas das vezes a dificuldade é a falta de informação suficiente para continuar a pesquisa. E essa falta de informação pode levar alguns de nós a desistir. O meu apelo este mês é precisamente sobre a nossa reacção a obstáculos na genealogia. Ouvi uma vez alguém dizer "Insista, persista e não desista!". E isso aplica-se também à pesquisa da nossa história da família. Não desista da sua genealogia. Já a sabedoria popular dizia que "água mole em pedra dura tanto bate até que fura." 


Se acha que precisa de tirar umas férias do seu obstáculo, vá em frente. Tire umas férias. Coloque esse desafio de lado por enquanto e escolha outro antepassado para pesquisar. Mas não desista. Férias são férias. Uma pausa, uma trégua, um descanso. Quando tiver mais energia volte ao "ataque". Mas não precisa de fazê-lo sozinho. Faça perguntas a quem têm experiência em genealogia e conhece os recursos e fundos documentais da área geográfica em que o seu obstáculo surge resistente às suas tentativas. Por vezes, outros olhos trazem perspectivas ainda não estudadas e podem resultar na resposta que se ansiava. 

Desde que comecei a pesquisa dos meus antepassados foram muitos os momentos que me deparei com obstáculos. E de certo que vão continuar a aparecer. Quando procurei pelos registos da minha bisavó paterna foram meses e meses sem resultados. Era uma frustração. Para dizer a verdade, era uma desilusão. O meu pai falou com tanto carinho desta sua avó que fez com que eu quisesse saber mais sobre ela. Os registos de batismo de cada filho, indicavam que ela tinha nascido em freguesias diferentes. O óbito do meu bisavô mencionava que ela era natural de uma outra freguesia. Mas nenhum dos pedidos nas diferentes conservatórias eram bem sucedidos. O registo de casamento dava a Roda de Expostos como local de batismo, onde também fiz buscas que não pareciam mais acabar.  

Mais de seis meses depois, e a memória de uma história que o meu pai me contou, ajudaram-me a estimar o ano do seu falecimento. Quando obtive o registo de óbito a freguesia era outra. Mas nada foi encontrado no Arquivo Distrital. Dava mesmo vontade de desistir. Quando alguém comentou que naquela altura havia uma capela dentro do hospital local, onde eram feitos batismos, eu resignei-me pensando que muito provavelmente era mais uma busca infrutífera. Mas felizmente estava enganada. Finalmente encontrei o registo de batismo. Porém, foi preciso o conhecimento local para resolver este obstáculo que mais parecia um fim de linha. Esta pesquisa não foi fácil. Custou tempo, dinheiro e paciência. E acima de tudo, persistência.

Um trisavô natural da Dinamarca que assentou raíz em Portugal em 1863 fez-me andar às voltas durante mais de 20 anos. Tornou-se num puzzle gigantesco que me levou a descobrir parentes na Dinamarca, Estados Unidos, Canada e Brasil. Fez com que eu aprendesse mais sobre a história da minha cidade e até da Dinamarca. Tive que aprender a ler documentos noutra língua e ter que lidar com um alfabeto diferente do nosso e dífícil de ler. Passei a conhecer documentos de outros países. Aprendi sobre emigração, naturalização, registos não católicos, registos militares, leis da altura, listas de passageiros, doenças e outras coisas mais. Mas valeu a pena. Tenho um carinho pelo meu trisavô capitão de navios Frederick Lorentzen que não sei bem como explicar. Parece que o conheço. E ele não foi o único cuja pesquisa me presenteou com obstáculos e dificuldades. Existem outros parentes difíceis de pesquisar e alguns mistérios ainda por resolver. A chave do sucesso na genealogia é simplesmente não desistir! 

E além da dica de não desistir, deixo aqui algumas sugestões que podem ajudar a resolver os seus obstáculos:

Examine os documentos que tem. Há alguma coisa que ainda não tinha reparado? 
Avalie os documentos dos descendentes. Há alguma informação que ajude a resolver o obstáculo?
Que outros documentos estão disponíveis sobre a mesma pessoa ou família?
O que consta nos documentos dos irmãos? E dos tios? 
Concentre-se num obstáculo de cada vez.
Considere que podem ter existido grafias diferentes para o nome da familia em questão. 
Use índices como um recurso, mas não confie 100%, pois errar é humano. Pode até ter sido publicado mas não quer dizer que seja perfeito. E não fique por aí. O índice é um começo, mas nunca deveria ser o fim. Consulte o documento original.
Procure conhecer a história local. Existe alguma publicação sobre a região, distrito, freguesia ou famílias? A biblioteca local pode ter a resposta que procura.
Use cronologias e resumos biográficos para rever quais os documentos que faltam encontrar. 
Explore que outros documentos podem existir, por exemplo, processos de casamento, inventários obrigatórios, passaportes, testamentos, escrituras, licenças, etc. Pense: novos registos, novas oportunidades.
 Use jornais da época. Alguns estão digitalizados. 
Faça perguntas em fóruns destinados à genealogia, em grupos dedicados à mesma área mas não se esqueça de avaliar as sugestões recebidas. 
Descubra webinários sobre os assuntos que lhe interessa ou locais; procure saber sobre encontros e conferências de genealogia.
Consulte um profissional.

Se ainda não encontrou a solução para o seu obstáculo, continue a procurar. Lembre-se "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura"! Boas pesquisas.


Comentários

  1. Maria Guerra7/4/21

    Adorei. Muito bom e animador. Obrigada. beijos

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  2. Ana Paula Bastos7/4/21

    Muito bom. Nunca desistir.

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  3. C Pratas7/4/21

    Dá vontade. Mas desistir nunca.

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  4. Eucisia Pereira7/4/21

    Lindo. Sinto me motivada.

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  5. Graça Lourenço7/4/21

    20 anos? Eu já tinha desistido. Não consigo ter essa persistencia.

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    1. Maria Guerra7/4/21

      Quem quer a bolota, trepa! :)

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    2. Guilherme Ferreira7/4/21

      Maria Guerra, flecha certeira essa

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  6. José Soares7/4/21

    Muito bem dito

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  7. Guilherme Ferreira7/4/21

    Estou mais animado depois de ler a sua publicação. Já tenho ideias às voltas na cabeça. Grato.

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  8. Lidia Santos7/4/21

    20 anos de pesquisa? incrivel

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  9. Vitor Sousa7/4/21

    Por vezes é o que me dá vontade. Mas a partir de agora vou tirar férias.

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  10. Teresa Sobral7/4/21

    Mensagem de qualidade. Obg

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  11. Sandra Lewis7/4/21

    Loved it! I have my browser translating your posts Adilia. Just love it. What an energy boost. Thank you. xx

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  12. Não existe uma “receita” exacta que sirva para todas as situações que encontrámos nas pesquisas. Cada caso é um caso. Mas as sugestões podem ajudar. Ainda bem que gostaram. Boas pesquisas para todos. E muita saúde.

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  13. Paulo Soares7/4/21

    “a persistência realiza o impossível”

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  14. Muito bom, grande incentivo, obrigada

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  15. Sofia Costa7/4/21

    Gostei muito das sugestões. Voltar atrás é melhor do que perder-se no caminho.

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  16. Ricardo Dias7/4/21

    Levei o "Insista, persista e não desista!"
    Parabéns

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  17. 100% de acordo! Desistir nunca. A genealogia é um trabalho para a vida, engane-se quem pensa que chega e avança até ao fim... Não sei bem que "fim" é esse, pois o meu "fim" ainda não encontrei, e já ando nisto há mais de 30 anos e tenho ramos dos quais não há mais registos.
    Excelente maneirs para desenvolver, entre muitos outros atributos, a paciência e a perseverança.
    Desistir nunca e garanto que vemos milagres neste trabalho.

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    1. Maria Guerra8/4/21

      Para a vida mesmo. Desde que comecei, ainda não consegui parar. Quando o meu marido me diz se já acabei. Eu digo-lhe: inocente. Não fazes ideia. :) :) :)

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  18. André Fernandes8/4/21

    deve ter a haver com a personalidade da pessoa. Se for de desistir, desiste. Mas se for pessoa determinada, continua até achar.

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  19. João Silva8/4/21

    Muitos parabéns pela sua invulgar persistencia.

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  20. Sonia4/5/21

    Adorei *****

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