A saga do copiar e colar na genealogia

Há uns dias atrás escrevi sobre como a pressa prejudica a genealogia e partilhei talvez os exemplos mais absurdos com que me tenho cruzado nos últimos tempos, situações que não deveriam escapar aos interessados em genealogia. O meu propósito era ilustrar a necessidade de todos nós usarmos o site de forma mais consciente e procurar ser mais exactos nas conclusões tiradas. No entanto, essa minha tentativa de alerta também serve para qualquer site de genealogia, nacional ou estrangeiro. 

E apesar das chatices que podem surgir numa árvore colaborativa, há um outro comportamento, para mim sem sentido, que ocorre em qualquer site de genealogia, mesmo nas árvores privadas. Refiro-me ao frequente "Copiar Colar".


E porque é que eu identifico este hábito como descabido? Permitam-me partilhar as razões.

"Sabe mesmo bem descobrir que mais alguém já pesquisou o meu bisavô. Nunca consegui encontrar e agora já tenho aqui as datas. Vou só copiar os dados e colar na minha árvore."

Copiar e colar nas nossas árvores informação encontrada em sites e publicações, tal como constam: nomes, datas, locais, etc, sem sequer analisar se existem contradições e inconsistencias é correr o risco de colocar dados incorrectos na árvore da família. Por exemplo, alguém ser mãe aos 82 anos de idade, alguém ser pai do quinto filho mas tem apenas 16 anos (e não se trata de gémeos, trigémios, etc), os filhos nascerem 140 anos antes dos pais casarem, ou então um antepassado directo falecer com apenas 2 dias de idade. Algum destes exemplos parece plausível? Uma criança que morre com 2 dias de idade não teve a oportunidade de deixar descendencia. E por isso não pode de forma alguma ser o meu trisavô. Mas quando o copiar e colar é um hábito este tipo de situação pode escapar e tornar a árvore da família menos robusta.


"O meu primo afastado que eu ainda não conheci já fez a história da familia. Vou lhe pedir cópia, encadernar e dar aos meus filhos e netos. Acho que até os meus irmãos e sobrinhos estão interessados."

Não sei se adivinharam mas estes exemplos que estou a partilhar eu ouvi em primeira mão. E a minha reacção a este último exemplo é tentar mostrar que seria prudente rever o que o tal primo encontrou antes de encadernar e partilhar com outros. Quando a pessoa em questão entende o raciocínio por trás de tal conselho, temos por vezes encontrado inconsistências e até nomes que foram lidos incorrectamente. Há ocasiões em que a leitura incorrecta resultou na pesquisa de pessoas erradas. Ler "Marianna" como se fosse "Maxianna" pode não dar grande problema mas confundir Ferreira com Pereira ou Teixeira, Carneiro com Coveiro, ou até o nome da freguesia, pode travar a pesquisa ou desviar a atenção para registos que não são da família. Tenho a certeza que os erros de leitura não foram feitos de propósito mas simplesmente copiar e colar pode perpetuar falhas que podem ser evitadas.

 

"Isto agora com a tecnologia é muito mais fácil e rápido. É só clicar aqui e passa tudo para a minha árvore."

"Não sei quem fez mas este ramo da minha família está todo no site. Vou copiar para a minha árvore. Isto é rapidinho."  

A tecnologia é com certeza uma grande ajuda. Ajuda a pesquisar, arquivar, organizar, criar gráficos, etc mas o facto de ser tão fácil copiar e colar não quer dizer que os dados estão correctos. Um pouquinho mais de paciencia e análise antes de clicar vale mais do que se pensa...


"A minha genealogia está toda feita. Foi um familiar da minha mãe e não há mais nada para pesquisar. Eu só preciso de copiar para a minha árvore."

"Eu encontrei a minha família naquele site que falámos e copiei tudo para a minha árvore. Nem precisei de fazer mais nada. Está tudo feito. Assim é que vale a pena."

Está tudo feito? Não há mais nada para pesquisar? Talvez. Mas como é que se pode ter a certeza se se limita a copiar e colar o que outros fizeram? Hoje em dia temos mais acesso a registos históricos do que nunca. Há quase uma década que podemos pesquisar do conforto da nossa casa, sem ter que viajar para outros cantos de Portugal e até outros países. Não é que viajar não seja atractivo mas nem sempre é possível. E é certo que ainda não está tudo digitalizado e indexado mas o acesso a documentos está 1.000 vezes melhor do que antes. Eu atrevo-me a  mudar a questão. O que será que ainda não descobriu

E então, qual é a solução? Nós não podemos controlar a pesquisa dos outros, mas podemos controlar o que nós colocámos em linha ou publicámos sobre a história da nossa família. A solução está em nós. Apesar do entusiasmo sentido ao encontrar linhas familiares já pesquisadas precisámos resistir ao copiar e colar, e passar algum tempo a analisar e verificar essas descobertas. Podemos usar as árvores publicadas por outros mas estas precisam de ser um ponto de partida e não o fim da pesquisa. 

E quando encontrámos algo incorrecto podemos usar as ferramentas disponíveis nos sites para corrigir erros, incluir explicações e acrescentar fontes, etc. Alguns sites possibilitam a comunicação entre as partes através de mensagens internas. No site de genealogia Ancestry, recentemente entrei em contacto com uma prima afastada que vive noutro país e não fala nem uma palavra de português (por enquanto!). Nos seus esforços honestos de conhecer os seus antepassados, confundiu o trisavô com os filhos e netos pois todos tinham o mesmo nome. Foi preciso alguma paciencia, uma contínua troca de mensagens e documentos mas acabou por ser corrigido. Outros familiares já tinham copiado os dados que ela colocou e o erro estava a ser passado para as outras árvores. 

Criar um blog ou sítio também tem sido uma forma de alguns partilharem as suas pesquisas, entrarem em contacto com outros descendentes do mesmo tronco da árvore, e corrigirem erros que circulam como factos. Mas uma vez online, é muito mais complicado conseguir parar o erro. Resista ao copiar e colar! Use as árvores como ponto de partida, como um recurso. 

Boas pesquisas como sempre !



Comentários

  1. Maria Guerra18/12/20

    Boa. Tenho visto disso também. Parabéns e boas festas.

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  2. Ricardo Lima18/12/20

    Deve haver erros nos meus porque eu copiei muita coisa no Myheritgae. Não pensei em verificar. Agora ou recomeço ou não sei o que será mais fácil.

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    1. Meu amigo, confere tudo de fio a pavio... e coloca fontes e documentos ou irás ter quem não é. Nunca ninguém disse que pesquisa era fácil... um abraço

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    2. Ricardo Lima12/2/21

      Tem razão mas não o fiz e agora é um pesadelo. E já encontrei erros. Vários erros. Ninguém pode ser pai aos 4 anos de idade....

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  3. Sofia Costa18/12/20

    Gostei. boa chamada de atenção. Quem só copia e não sabe o que está a copiar... corre o risco de ter muita coisa errada.

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  4. Fatima Rodrigues18/12/20

    Já percebi a razão da saga. É que isto uma vez partilhado não pára Shah
    Muito bem. Fico à espera da proxima publicação.

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  5. Lidia Santos18/12/20

    Viver com a premissa que ninguém é perfeito faz me aceitar o que diz. Pensava que os outros tinham sido tão responsaveis quanto eu fui este tempo todo.

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  6. Carlos Duarte18/12/20

    Bom alerta. Concordo.

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  7. Isabel Santos18/12/20

    Até os livros publicados por especialistas têm erros.

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  8. Carlos Dias6/2/21

    Copiar e colar pode ser o inicio de uma palhaçada em vez de uma genealogia.

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  9. José Soares6/2/21

    Salta me a tampa quando vejo nomes como Assumpção colocados como Ajumpção... Imagino o resto da árvore...

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  10. Isabel6/2/21

    um documento que diz "baptizou o Padre Jozeph Bello de minha licença a Jozeph filho de Manoel Luis da Povoa" e vem uma criatura e diz "o nome da criança é Josemar Coelho"... Mãe do céu. Deve precisar de oculos. Imagino copiar e colar arvores feitas dessa forma. Até dá susto em qualquer um.

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  11. Copiar e colar nunca dá bom resultado. Basta um pequeno engano de propósito ou não para a nossa genealogia ser uma mentira. Eu no MyHeritage olho para outras mas confirmo tudo com documentos antes de colocar na minha.

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