Alcunhas Portuguesas


Na pesquisa de ancestrais encontrámos por vezes referência a alcunhas. Nuns livros mais do que em outros mas aparecem, dando até um ar de certa forma mais realista aos nomes que lemos. Mas afinal para que serviam as alcunhas?

Uma alcunha normalmente era vista como uma forma informal de identificar e ou distinguir uma pessoa por conta de uma característica pessoal, quer se esta se destacasse pela positiva ou negativa. Por vezes, encontrámos situações em que a alcunha acabou por se tornar nome de família e assim permanecer por algumas gerações. Ou seja, foi "ganha" e consequentemente, podia também ser herdada.

o Padre Manoel Antonio de Sá Boamorte Vigario

Neste caso, terá Boamorte começado como alcunha??

Joze Vinagre
Algumas alcunhas estavam relacionadas com as ocupações, por exemplo, mestre, barroqueiro, caleiro, rabelo, estanqueiro, ratinho, albardeiro. Outras surgiram devido à naturalidade da pessoa em questão: o alemão, o inglês, Lisboa, Guimarães, Braga, Chaves, Bragança, Espanhol, galego, etc. visto que a naturalidade era o factor que destacava a pessoa dentro da população onde passou a residir. Outras vezes, ganhava-se a alcunha porque se tinha deslocado ou vivido por algum tempo por outras partes: o francês, o frança, o brasileiro.

Outras alcunhas, por vezes muito interessantes, por vezes surpreendentes, surgem por conta das características físicas. Encontrámos alcunhas como cabeludo, crespo, barbas, manco, coxo, aleijadinho, perna de pau, perna torta, maneta, gordo, gorducho, caçapo (homem baixo e gordo), franganito, pisco, murganho (o mesmo que franzino, enfezado), cabeçudo, magro, branco, grande, caolho, zarolho, surdo, surdinho, gago, mouco, lindinho, cara linda, manzudo, ruivo, etc.

Outras seriam dadas por conta de outras "características", por exemplo: pai bom, bom nome, pio, papa, santo, alminhas, orfão, a rocha, a brava, façanha, pimpão, feiticeiro, rei, chorão, chalaça, moedas, pé de ginja, lerias, forreta, macaco, pão duro, avarento, rega ruas, bazófia, má fazenda, furta galinhas, papa galinhas, sorna, engonha, mau feitioveneno, etc.

Thereza Franganita

Vicente Franganito

Havia ainda alcunhas que serviam para distinguir entre pessoas com um nome idêntico na mesma familia. Nesta situação, temos alcunhas como: novo, moço, velho. Porém, estas alcunhas eram igualmente dadas a pessoas que tinham o mesmo nome e moravam na mesma aldeia.

No entanto, nem todas as alcunhas tinham como objetivo a distinção "das gentes". Muitas das alcunhas tinham um cunho tão negativo que pareciam ter como única finalidade ridicularizar a pessoa em questão, causando o riso dos demais. Por exemplo, tontinha, atrapalhado, chacota, gula, bode, gordalhão, perdigoto, boca de sapo, papagaio, pingalho, xeta, nabo, labrego, maravalha, mamão, bicho. Estas alcunhas não trazem à mente nada mais do que troça.

Além disso, alcunhas como malato (adoentado), azarado, taralhouca, atazanado, doido e demente reflectiam o comportamento usual, o estado físico ou mental da pessoa em questão, mas infelizmente era essa a característica que se realçava naquela pessoa.

Encontra-se ainda outras alcunhas que não consigo ainda "imaginar" o motivo ou pretexto, como por exempo: calhau, ceroulas, bilhê, esfrega, chita, parreco, palha, calça, tonicho, sardão, alho e litro. 

No final das contas, as alcunhas ilustram o modo de viver de um povo e a sua sociedade, retratando sobretudo a forma como viam os outros. Pode até dizer-se que a alcunha é uma forma de contar uma história sobre a vida da pessoa que a recebeu. Que alcunhas já encontrou nas suas pesquisas?


Comentários

  1. Anónimo31/8/16

    Nunca tinha visto Franganito.
    Edmundo P

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  2. Anónimo3/9/16

    Há muitas alcunhas engraçadas mesmo.
    Donna

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  3. Anónimo8/9/16

    Muito informativo.
    obg Julia

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  4. Anónimo8/9/16

    Não tinha pensado em metade do que voce ecreveu.
    Obg Margarida

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  5. Anónimo14/9/16

    Tem cada alcunha mais estranha. Vou mandar uns docs para voce ver. Fica atenta ao seu email.
    bjs Isabel

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  6. Maria Guerreiro23/6/18

    Adorei. *****

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  7. Ana Pereria Alves23/6/18

    Como a Maria afirmou 5**** ;)

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  8. Joaquim Carvalho23/6/18

    Muito bem. Gostei mesmo. Muito obrigado.

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  9. Maria Guerra23/6/18

    Adorei. Muitos parabéns.

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  10. Anónimo22/2/19

    Adorei seu texto! Obrigada!
    Cynthia

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  11. João Rodrigues23/2/19

    Muito bom. Cumprimentos

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  12. A da minha família paterna é pachorra ...

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  13. Anónimo9/10/22

    Em Angeja, a minha familua é conhecida pelos Penteeiros, pois o pai do meu trisavô fazia pentes de tear.

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    1. Alguma vez a alcunha Penteeiros passou a nome de família em algum ramo? Obrigada

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  14. Anónimo16/11/22

    Na minha família um dos meus avô adotou o sobrenome Fagulha, e digo adotou pois até à 12ª geração não apareceu ninguém com esse sobrenome. A verdade é que depois dele dois dos filhos (meus tios) continuaram com esse sobrenome que passaram aos descendentes ( meus primos).

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  15. Anónimo2/5/24

    Na freguesia da minha mãe há alcunhas como "gago", "luxo" e "cagado". Coitados dos descendentes...

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  16. Nos meus antepassados há alcunhas engraçadas também e algumas tornaram-se em nomes: Tremeterra, Baltarejo, Susano, Moncharro, Trovão e Manço.

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    1. Ainda não encontrei Tremeterra. :) Obrigada pela partilha! Boas pesquisas.

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  17. Entre os meus antepassados do Seixal, Setúbal, PT havia "moinha", "conde", "duque", "morgado", "malpenteado", "louro", "borriqueira", "rijo"→eventualmente tornou-se apelido assim como "pita" que também se tornou apelido. E muitas muitas outras :) Este blog é muito interessante. Obrigada pelo seu tempo e talento. Alda A. Pita B.C.D.

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    1. Há alcunhas e apelidos muito originais. Obrigada por partilhar mais estes. E agradeço as suas palavras. Desejos de boas pesquisas!

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