Recentemente, ao responder a um pedido de ajuda, encontrei mais uma vez um exemplo perfeito do risco que corremos ao aceitar registos sugeridos e adicionar os mesmos à árvore familiar sem ler os registos em si.
Aliás, uma boa parte das pessoas que contacto após eu ver as alterações que fizeram nos perfis dos meus antepassados sem razão ou lógica (por exemplo, alguém nascer em 1607 e ter uma filha em 1917, com fontes anexadas, que já partilhei aqui no blog) respondem que aceitaram a sugestão dada pelo site. E que por essa razão deve estar correcto. Mas como o próprio nome indica, uma sugestão é um palpite. E sendo um palpite uma possibilidade, o que fazer?
Ler o documento original e comparar com o que já sabemos é a única resposta que tenho a oferecer.
E voltando ao exemplo que encontrei, apresento-vos o Sr. Cardoso e a D. Maria de Jesus. E segundo o perfil criado para a família deles, têm seis filhos: Candido, Cato, Carolina, António, Ana e por último, Joaquim.
O ponto de partida da pesquisa foi o registo de batismo do filho António. Ao ler o registo ficámos a saber que o António nasceu na freguesia de Ramalde, na cidade do Porto em 1871. O nome e naturalidade dos pais e o nome dos avós paternos e maternos não deixa dúvidas. O António era filho de Francisco Pinto Cardoso e Maria de Jesus, ambos naturais de Miomães, que fica no concelho de Resende, distrito de Viseu. Os avós paternos eram Custódio Pinto Cardoso e Maria de Jesus e os maternos eram José Ferreira Maia e Maria de Jesus. Maria de Jesus era um nome popular!
Se se lembram da lista de filhos, temos mais cinco indivíduos e um deles chama a atenção pelo nome invulgar: Cato. Parece ter nascido no mesmo ano da Carolina, 1869. Mas ao abrir o registo de batismo lido pela inteligência artificial, o Cato afinal é nada mais do que Carolina.
Olhando para a imagem, entende-se porque é que a inteligência artificial achou tratar-se do nome Cato. Vejam só aquele R tão "esticado"e fora do tamanho usual para este escrevente. Além disso, também não foi feita a ligação com o resto do nome na linha seguinte "lina". Visto que o Cato não existiu mas é o resultado de um erro de leitura pela inteligência artificial, torna-se necessário usar a opção proporcionada pelo próprio site para o efeito: relatar. Esta opção aparece no lado direito. E temos ainda a oportunidade de corrigir os dados indexados com a opção "alterar".
Neste caso, a solução é usar a opção que nos permite corrigir esta situação. Clicar no símbolo de editar (circulado a vermelho na imagem abaixo) deixa remover esta pessoa como filho do Francisco e da Maria. Não é necessário apagar o perfil do Candido. Basta somente desvincular o Candido destes pais, colocando a respectiva razão: pais incorrectos.
Podemos ir mais além e colocar os pais e avós correctos para este indivíduo, tal como consta no registo de batismo e deixar a fonte anexada ao mesmo perfil. Talvez isso evite que outros usuários tentem reverter a alteração feita.
Dos seis filhos alistados resta-nos dois para verificar: a Ana e o Joaquim. O batismo da Ana aconteceu na mesma freguesia que o batismo do António. Mas isso não é prova suficiente que eles são irmãos. Felizmente o registo de batismo é claro e revela que a Ana tem os mesmos pais e avós do António, visto que apresenta os mesmos nomes e são dos mesmos locais.
No entanto, o perfil da Ana exibe uma data de batismo incorrecta e falta incluir a data de nascimento.
Resta-nos o registo de batismo do Joaquim. Este Joaquim foi batizado numa outra das 15 freguesias que a cidade do Porto tinha antes da reforma administrativa de 2013, em Aldoar. Como referi anteriormente, esta diferença não é razão suficiente para decidir se o Joaquim é irmão do António, que foi batizado na freguesia de Ramalde. Todas estas freguesias são muito próximas ou até mesmo ao lado.
O registo de batismo do Joaquim indica que o pai era Francisco Pinto, trabalhador. Falta o nome de família Cardoso e a profissão deveria ser barbeiro e não trabalhador. Mas a vida tem "histórias" que não imaginámos e poderia ter mudado de profissão. Ou então ser engano de quem fez o registo. Mas o nome da mãe, Maria Rosa de Jesus, aumenta ainda mais as suspeitas que não se trata de um irmão do António. As naturalidades de ambos os pais também são outras: Ul em Oliveira de Azeméis e Vale em Arouca. De certo que este Joaquim não pertence a esta família.
A chave para deslindar esta questão está nos avós. Onde está o Custódio? E o Jose Ferreira Maia? Este Joaquim é neto de Manuel Pinto e Felicia Rosa, e de Antonio Francisco do Lago e Rosa Maria. Seguramente, o Joaquim também não é irmão do António.Dos seis filhos alistados, o Cato não era Cato mas sim Carolina. A Carolina é do sexo feminino e não masculino. A Ana tinha uma data errada e outra em falta. O Candido tinha outros pais, naturais de Caria. E o Joaquim, era também de uma outra família, naturais de Ul e Vale. Todos juntinhos mas não no sítio certo.
Aceitar sugestões às cegas é fácil e rápido. A árvore cresce e cresce. Mas com esta escolha arrisca-se a ter na árvore da família nomes errados, géneros mal atribuídos, datas incorrectas ou em falta e pior ainda, pessoas que não são sequer parentes.
Vale a pena arriscar? Eu sou da opinião que mais vale "perder" 2 minutos a ler o registo original com calma e quem sabe descobrir mais algum dado, do que passar horas ou dias a emendar e eliminar linhagens que não são nossas e ter que começar de novo.
A inteligência artificial lê e sugere, e nós precisámos de ler e comparar com o que já sabemos para então aceitar ou rejeitar. A tecnologia está a fazer toda a diferença. Mas ler o registo original não só é necessário como também é indispensável.
Boas pesquisas para todos e muitos registos sugeridos é o que vos desejo!
Excelente! Como sempre. Obg
ResponderEliminarSempre a aprender. Não costumo usar o FS mas o my MyHeritage. Mas aplica-se o principio seja qual for o site ou publicação. Grato
ResponderEliminarÉ como aquele cartaz que a senhora fez com a tartaruga. Devagar se vai ao longe.
ResponderEliminar"A genealogia requer persistência, não rapidez!" https://asraizes.blogspot.com/2021/02/blog-post.html
EliminarÉ esse mesmo. Bem haja.
EliminarApresentou e muito bem um caso para estudo. Isto da genealogia precisa de rigor.
ResponderEliminarE assim faço, vou sempre procurar o registo original aos arquivos ou ao tombo.pt. quando tenho dúvidas, não anexo, mas não apago. E já tive grandes surpresas de alguém daqui com registos noutro distrito... E estava certo.
ResponderEliminarBoa tarde Adilia Mack Freitas Mata,
ResponderEliminarRealmente a que se atentar para os detalhes, de fato a tentação em aceitar a sugestão e continuar o processo existe, entretanto concordo que é tempo ganho o tempo gasto em análise!
No mais, o Sr. António é meu antepassado e através de seu texto puder conhece-los um pouco melhor, agradeço muito por isso!
Pude por pouco de tempo viajar nas histórias que não ouvi e paisagens que não vi e fiquei tocado!
Outro ponto importante são os parabéns pelo texto muito bem escrito e muito didático!
Muito obrigado!
Grata pelo comentário. Foi uma descoberta muito interessante que se tornou num exemplo fantástico. O Cato ficou-me na memória. Até breve.
Eliminar"e pior ainda, pessoas que não são parentes" Exemplo perfeito 👍
ResponderEliminarOtimo texto! No minimo antes de aceitar uma sugestão deveriam ler o registo original, seja qual for o site 🙁
ResponderEliminarMuito bem explicado! Otimo para os menos experientes.
ResponderEliminarLegal
ResponderEliminarnão sei o que se passa na cabeça das pessoas
ResponderEliminarDivulgei. Muito interessante!
ResponderEliminarExcellent presentation.
ResponderEliminarPerfect example. Thank you. Obrigada.
ResponderEliminarThat makes sense to me!
ResponderEliminarOtimo texto. A imagem inicial também ajuda. Bem haja.
ResponderEliminarTalvez seja por isso que tenho imensas sugestões. Muito obrigada🙏 Vou analisar com olhos mais atentos.
ResponderEliminarTambém já vi casos assim mas desisti. Fica muito complicado de resolver.
ResponderEliminarCom paciência e um caso de cada vez, há de lá chegar. Talvez seja melhor um intervalo entre cada situação para não desanimar, e depois volte e continue.
EliminarFiquei mesmo sem vontade
EliminarEntendo perfeitamente. Às vezes tiro umas férias :)
EliminarE depois volto com energia renovada. Se não o fizermos, os menos experientes vão tomar os dados publicados como facto. E depois a saga continua. Há quem copie sem retificar. E a informação passa de mãos em mãos, de site em site, apesar de estar incorrecta.
Força! E boas pesquisas.
Obrigada. Afinal não estou sozinha! Um dia destes ataco a confusão. Bom fim de semana.
EliminarSozinha não está de certeza. Bom fim de semana.
EliminarSozinha não está não. Eu usava muito o MyHeritage e os smart matches... nem comento. As pessoas copiam os dados de umas árvores para as outras sem verificar as ligações e os documentos. Um pesadelo de erros. É de perder a paciência.
EliminarI used Google translate because I don't speak Portuguese. I'm a 3rd generation and never learned it from my dad. Even he can't really read or speak Portuguese. From what I could understand this is really useful. SHOULD BE DONE AS GENE RAL PRACTICE. I'm also getting to grips with the site. I'm using Ancestry to keep a clean tree.
ResponderEliminarWelcome. If you have any questions, drop me a message.
EliminarEu estou sempre a aprender cada dia se fiz mal é porque não sabia melhor
ResponderEliminarNão perca a motivação para aprender. Todos tivémos que aprender. E ninguém sabe tudo. Boas pesquisas.
EliminarMuito obrigada não pensei que fosse ler o meu comentario eu estou sempre a aprender gostei muito do seu site tem muita coisa que eu nunca vi ou sabia. Vou imprimir a amostra de letras que publicou isso e muito dificil para mim. Ler e colocar o que encontro no computador mas com calma tudo se faz.
EliminarA meu ver está muito correto fazer textos destes para quem não sabe ter onde aprender. Bem haja.
ResponderEliminarTudo muito certo. Entendi a mensagem. Mas como sabe que estas pessoas, estes perfis, foram baseados em aceitar registos sugeridos pelo site? Essa informação aparece em algum lado?
ResponderEliminarA primeira suspeita surgiu porque os registos anexados aos perfis desta família, até a data, foram todos sem excepção lidos pela inteligência artificial, que o sistema usa para gerar sugestões de registos. E com isso, os erros encontrados, como falta de datas, perfis duplicados, datas e nomes incorrectos, aumentaram mais ainda a suspeita de terem sido sugestões aceites às cegas.
EliminarPorém, eu contactei a pessoa que criou e anexou os documentos aos perfis nesta família, apontando as incoerências e erros. E no diálogo ficou claro que foram sugestões aceites. As intenções eram boas, mas a execução precisa de mais rigor.
É impressionante como se pode causar estragos apesar das boas intenções.
EliminarA intenção deveria ser fazer direito mas serviu o alerta
EliminarA intenção vale muito. Tem mérito. A pressa é que atrapalha tudo. Por isso partilho artigos como este com o intuito de ajudar a mudar esta atitude. A pesquisa precisa de paciência e análise do que se encontra antes de ligar as pessoas umas às outras, para evitar perdas de tempo, frustração e árvores com antepassados que não são nossos. Boas pesquisas!
EliminarBem haja por ter respondido à minha pergunta. Ficarei mais atento.
EliminarAlways assume good intent. We're all learning and sometimes we learn from other people mistakes.
EliminarYou're quite right, Cheryl Dias.
EliminarWhen I was brand new to genealogy, I created my family tree by accepting all the hints on FamilySearch, Ancestry and MyHeritage without verifying. For the last year or two I have been focused on going back to the beginning and verifying every individual, before moving back to the next generation.
ResponderEliminarOnce I started the 4th generation I found huge mistakes and wrong people in our tree. And my siblings had already paid a lot of money to print it in book format and share it with the family. I really wasn't trying to make such a mess. I just didn't know better.
I'm glad you share this type of situations. Hope people can learn before they go at it the wrong way like I did. It's so frustrating because it takes way longer to sort the mess than to do it right.