Ultrapassar as barreiras que encontrámos na genealogia, requer uma mistura de pensamento criativo, persistência e abordagens metódicas. Partilho aqui algumas estratégias que têm funcionado para mim quando me encontro num beco sem saída:
➤ 1. Reveja o que já sabe
➤ 1. Reveja o que já sabe
- Reveja os registos que já encontrou e tente identificar as lacunas ou os detalhes que lhe possam ter escapado. Reler ajuda a refrescar a memória e podemos até identificar algo que ainda não tínhamos notado.
- Verifique se existe consistência nos nomes ou variações.
- Examine se as datas e locais fazem sentido.
- Preste atenção aos averbamentos. Há vários tipos de averbamentos: casamento, viuvez, falecimento, entre outros, e que ajudam a localizar outros documentos.
- Não ignore as notas laterais. Por vezes, indicam que "mudou para o Brasil", ou então "vive em Setúbal". Outras vezes indicam factos como por exemplo: "falecido em 1909". Às vezes, os detalhes abrem portas.
➤ 2. Expanda a sua pesquisa
- Procure outros filhos, além da linha directa. Esta estratégia ajuda a conhecer melhor a família, a confirmar ou refutar a informação que já conhece, e até quem sabe trazer novas pistas.
- Procure irmãos, pelas mesmas razões apontadas acima.
- Pesquise os padrinhos ou testemunhas, quando há informação suficiente para isso. Uma boa parte dos padrinhos eram família, mas podem ter sido só amigos ou pessoas de posição social que favorecia a família que estuda.
- Procure nas freguesias mais próximas.
- E não se esqueça das freguesias mencionadas quanto às pessoas que se mudavam com frequência para a freguesia em que está a pesquisar. Estas situações podem acontecer por várias razões: trabalho sazonal ou definitivo, herança, situações familiares, negócio, desenvolvimento da área que atrai pessoas em busca de oportunidades, saúde, etc. Identificar esses padrões pode ser uma pista quanto ao movimento de indivíduos e famílias nessa zona e a chave para resolver o seu beco sem saída.
- Não ignore os declarantes, principalmente nos registos civis. Nesse tipo de registos costuma ter o nome, idade, naturalidade e residência.
➤ 3. Utilize diferentes tipos de registos
- Explore outros registos que costumam ser ignorados ou passar despercebidos: testamentos, inventários judiciais (orfanológicos, facultativos, interditos e ausentes), escrituras, crismas, registos militares, etc.
- Os jornais podem ser um tesouro por conta dos obituários, eventos ou avisos sociais. Pode até encontrar mudanças de nome, informação sobre naturalizações, e até fotografias!
- Tente aprender sobre o local onde os seus antepassados viveram e os eventos que afectaram essa área. Isso pode ajudar a entender porque é que não existem registos, para onde as pessoas se tenham refugiado por algum tempo, ou tenham migrado. O efeito também pode ser no sentido contrário: permitir entender ou calcular de onde vieram.
- Quais eram as tendências migratórias para aquele local?
- Que mudanças nos limites das freguesias e concelhos aconteceram por causa das reformas administrativas? Temos freguesias que foram extintas ou anexadas a outras freguesias. Temos concelhos que deixaram de existir e as freguesias foram incorporadas noutros concelhos e até em distritos diferentes. Um exemplo seria os concelhos de Ribatâmega e Sobretâmega.
- Se a freguesia ou concelho mudou de nome? A freguesia de Porcas, no concelho da Guarda, passou a chamar-se de freguesia de Vale de Estrela em 1928. Mas há mais que mudaram de nome com o passar do tempo e do desejo dos seus habitantes.
- Considerar que factores económicos tiveram um papel decisivo no movimento de pessoas:
- crises agrícolas: secas, pragas e falta de terras férteis.
- fome e escassez de alimentos: períodos de fome impulsionaram muitas pessoas a emigrar para o Brasil, e já no século XX para a França, Alemanha e Luxemburgo.
- falta de oportunidades laborais - durante o Estado Novo (1933-1974), a pobreza e a falta de emprego forçaram milhares a procurar trabalho em países como a França e a Suíça. E nos séculos anteriores, foram para onde??
- industrialização: desde os meados do século XIX e no século XX, muitas pessoas mudaram-se das aldeias para as grandes cidades como Lisboa e Porto onde havia um grande número de fábricas, e ainda Setúbal, pela maior possibilidade de emprego.
- Ter em conta os factores políticos e sociais que tiveram lugar naquele período de tempo ou logo antes. Tivemos guerras, invasões e conflitos e muitas pessoas naturalmente fugiam das zonas de conflito. A título de exemplo, as Invasões Francesas (1807-1811). E ainda outro exemplo, a Inquisição e a conversão forçada de judeus e mulçumanos, muitas famílias procuraram refúgio noutros locais em Portugal e fora do país.
- E os desastres naturais? Imediatamente lembro-me do Terramoto de Lisboa em 1755 que destruiu a cidade e forçou muitas pessoas a deslocarem-se para outras regiões. Outro exemplo seria nos Açores quando um vulcão em erupção causou movimento de famílias em massa para outra ilha.
- E por último, quais foram os factores tecnológicos e de infraestrutura?
- Construção de ferrovias e estradas: a expansão da rede ferroviária no século XIX facilitou a deslocação das populações do interior para os grandes centros urbanos.
- Melhoria das ligações marítimas: a facilidade de transporte para o Brasil no século XIX e para os Estados Unidos no início do século XX impulsionou a emigração.
Resumindo, contextualizar os eventos históricos permite a identificação de padrões e tendências em áreas de interesse e facilita reconstruir trajectórias de famílias.
- Estabeleça contactos com outros pesquisadores que possam estar a trabalhar nas mesmas linhas familiares ou áreas geográficas. Descobri o registo de óbito do meu trisavô Frederick Lorentzen no Porto graças a dois historiadores que se lembravam de ter visto e transcrito o seu obituário no jornal. "Quem pergunta, quer saber!" E nunca se sabe o que outros já descobriram e não se importam de partilhar.
- Os fóruns de genealogia e os grupos de redes sociais podem ser inestimáveis. São lugares criados para facilitar a entre ajuda. Peça ajuda e ajude outros quando sabe. Juntos podemos mais!
- Os testes de ADN podem revelar correspondências ou ligações inesperadas para orientar a sua pesquisa.
➤ 6. Tire proveito de pesquisas avançadas e explore os pontos fortes e fracos das bases de dados
- Utilize técnicas de pesquisa avançada em plataformas de genealogia, e até mesmo em navegadores, pois há comandos simples que nos ajudam a refinar os resultados.
- pesquisas com caracteres que permitem resultados mais apurados. Deixo alguns exemplos mas há mais atalhos do que estes:
- "Manuel António Salvaterra", com o nom entre aspas para ter resultados só com esse nome.
- Maria Francisca Figuei*, com asterisco, para obter resultados com Figueira ou Figueiredo; Manuel Sou*a para obter resultados em que grafia difere entre S e Z.
- "Anselmo Henrique Moreira" -Brasil ou então +Leiria, para conseguir resultados com Leiria mas sem ter páginas relacionadas com o Brasil.
- filtros de intervalo de datas, "de 1850 a 1930" para obter resultados na época que lhe interessa.
- pesquisas com "todas as palavras" ou então "contém a frase exacta", etc. Explore o que se consegue fazer nas diferentes base de dados experimentando os diferentes filtros.
- Explore recursos como os arquivos locais, bibliotecas municipais, instituições com papel significativo na localidade de interesse (como por exemplo a Santa Casa da Misericórdia), entre outros. E se conhece outros, partilhe nos comentários.
- Procure bases de dados especializadas, índices criados e partilhados na internet.
- Verifique se já existem blogues sobre as famílias que lhe interessam ou sobre os locais.
➤ 7. Documente tudo
- Mantenha um registo das pesquisas e das fontes, mesmo quando não produzirem resultados. Parece ser uma perda de tempo visto que não encontrou o que pesquisava, mas asseguro-lhe que esta estratégia evita trabalho dobrado e ajuda a reconstituir os seus passos, quando necessário.
➤ 8. Seja paciente e criativo
- Por vezes, dar um passo atrás e reavaliar com novos olhos e com a cabeça fresca pode revelar soluções que ainda não tinha percebido.
- Pense de forma criativa e atreva-se a explorar e conhecer os registos e recursos disponíveis. Não sabe o que pode encontrar até dar uma olhadela pelos catálogos dos arquivos. Considere ainda que um antepassado pode ter adoptado uma criança sem deixar rasto documental por ter sido informal ou mudou de nome por uma razão específica. Neste último caso, os jornais revelam situações interessantes: por questão de haver outro negociante com o mesmo nome e serem confundidos com frequência, por zangas entre família, pela má fama de alguém com o mesmo nome, etc.
Em suma, os becos sem saída podem ter solução. Não desanime. Experimente as várias sugestões acima para lidar com as barreiras que lhe aparecem nas suas pesquisas. São abordagens que tentam combinar pensamento criativo, persistência e metodologia para superar os desafios na genealogia. E se já experimentou outras estratégias que funcionaram, partilhe connosco nos comentários. E como sempre boas pesquisas!
Como posso descobrir mais sobre os desastres naturais no Açores?
ResponderEliminarPode pesquisar no Google mas no wikipédia há uma página dedica a isso. https://pt.wikipedia.org/wiki/Cronologia_de_desastres_naturais_nos_A%C3%A7ores
Eliminar"Quem não tem cão caça com gato". Se uma sugestão não funcionar, experimenta-se outra.
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