Registos no Hospital Real de Santo Antonio no Porto

Pouco depois de ter iniciado as minhas pesquisas pelos meus antepassados, encontrei um entrave numa linha paterna que me impedia de avançar: onde nasceu a minha bisavó Amélia. 


Os vários documentos dos filhos e do marido, que já tinha conseguido localizar, indicavam o nascimento dela em freguesias diferentes da cidade do Porto. E de repente, dei comigo a concentrar os meus esforços maioritariamente na pesquisa do registo de batismo da minha bisavó Amélia. Foi uma busca que se arrastou por algum tempo, mais concretamente entre 1994 e 1996, mas acabou por ser um momento de aprendizado para mim. 

Os registos de batismo dos filhos, e não foram poucos, indicam a naturalidade da Amélia como Lordelo do Ouro, a freguesia ocidental do Porto onde residiam. Certa que encontraria então o batismo nessa freguesia, fiz o pedido da cópia do registo na conservatória respectiva, citando os anos de probabilidade. Mas o resultado foi negativo. 


Por curiosidade, pedi o registo de óbito do marido, o meu bisavó Manuel, cuja data aparece averbada no registo de batismo dele. Por conta da data, tal pedido já tinha que ser feito no Arquivo Central do Porto, na Rua Visconde Setúbal, junto ao Marquês. Este registo indica que a sua esposa Amélia era natural da freguesia de Massarelos. Foi então pedida a busca junto da conservatória mas novamente nada foi encontrado. Já lá vão duas freguesias sem resultado...


O registo de casamento foi finalmente localizado, e indica que a Amélia foi exposta na Roda do Porto, no entanto para minha surpresa indica o nome da mãe. Pensando eu que ela pudesse ter sido batizada ao entrar na roda, procurei durante meses a fio nos arquivos desta que estavam na posse da Assembleia Distrital do Porto, sita na Rua Antero de Quental. Essa busca levou vários meses nos meus dias de folga, a respirar pó e não sei mais o quê. Uma verdadeira aventura. Mas infelizmente não encontrei nada sobre a minha bisavó Amélia. 


Aliás, os documentos até agora encontrados indicavam idades ligeiramente diferentes. Este facto dificultou a pesquisa. Eu não tinha um ano estimado para o nascimento da Amélia, mas tinha que pesquisar por um período de 7 anos. Imaginam quantos milhares de entradas na roda eu tive que ler? 

Continuei a pesquisa pelas outras freguesias próximas de Lordelo do Ouro: Foz do Douro, AldoarNevogilde e ainda Ramalde. Mas nenhum dos pedidos de pesquisa junto das conservatórias encontrou coisa alguma sobre a Amélia ou a mãe dela. Ou seja, seis freguesias e sem resultados. 

Pesquisei ainda nessas freguesias mencionadas acima pelo batismo de todas as Amélias, que fossem filhas de uma Matilde dos Santos. Parece descabido mas Matilde não era um nome comum. E apesar da Matilde ter um dos apelidos mais usados em Portugal, Santos, havia outros dados que ajudariam a discernir se se tratava da mesma pessoa. Lembro-me de haver uma outra Matilde, mas esta era casada e tinha nascido num local distante da minha Matilde. 

Cansada de todo este esforço não dar resultados, lembro-me de pensar o que mais poderia fazer e estava mesmo prestes a desistir. Passei tempos infinitos nestas idas e vindas a conservatórias e arquivos e não tinha conseguido coisa alguma. Analisei onde já tinha pesquisado e não via onde mais convergir as minhas pesquisas. Eu estava mesmo inclinada para mudar a pesquisa para outro ramo da árvore. Que mais poderia fazer? 

Foi então que me lembrei de uma breve passagem que o meu pai me contou sobre esta sua avó. Ele lembrava-se de que a avó dele, de quem falou com carinho, foi quem o levou à escola no primeiro dia de aulas. E que infelizmente ela faleceu pouco depois disso. 

Eu sabia que ela teria falecido depois do marido, o meu bisavô Manuel, pois constava como viva no registo de óbito dele. Mas eu não tinha uma data aproximada para pedir uma cópia do registo dela. Com o detalhe da idade do meu pai quando a avó dele faleceu em mente, um detalhe quase escondido numa pequena história partilhada no meu primeiro dia de escola, calculei o possível ano de morte da Amélia. E com isto, pedi o registo de óbito, na esperança de encontrar mais dados sobre a naturalidade da Amélia. 


O óbito aponta que a minha bisavó Amelia era natural de Miragaia. Mais uma freguesia do Porto. Uma nova busca foi feita, mas já no Arquivo Distrital do Porto. Assim que tive tempo, procurei vários anos para trás, mais uns anos para a frente. E nada! A mesma pesquisa foi realizada nas freguesias de Cedofeita e Santo Ildefonso. Praticamente, já tinha procurado em metade das freguesias do Porto.

Nesse momento uma alma generosa, o bendito Sr. Mendes (funcionário do Arquivo Distrital do Porto), ao assistir à minha frustração, comentou que existia em Miragaia um outro sítio onde eram realizados batismos e feito também o registo de óbitos. Passei então a saber que no Hospital de Santo António existia uma pequena capela, onde o capelão do hospital realizava e registava batismos e óbitos, (por ordem do Bispado, segundo a informação colocada nos termos de abertura e encerramento dos livros).




E de acordo com a informação dada pelo Arquivo Distrital do Porto, os livros encerrados eram arquivados na Câmara Eclesiástica do Bispado do Porto, e estão agora disponíveis no Arquivo Distrital do Porto

Inicialmente, a capela do hospital era da competência da freguesia de Cedofeita, mas a partir de 1865 foi entregue à freguesia de Miragaia. Existe uma colecção de cerca de 100 livros, que contêm o seguinte:

batismos                                            1848-1903
óbitos                                                  1857-1903
reconhecimentos e legimitações      1884-1902 
índices de batismos e óbitos            a partir de 1848, mas não cobre todos os anos

E foi nestes registos que finalmente encontrei o batismo da minha bisavó Amélia e descobri mais informações da sua mãe Matilde! 

Agora, todos estes anos depois, ao escrever sobre esta "viagem" penso como cheguei a este ponto. Não foi somente a minha vontade férrea de encontrar a naturalidade da minha bisavó Amélia que me trouxe até aqui. Foi um conjunto de factores. É certo que insisti por um longo tempo numa busca sem resultados mas foi um detalhe numa história contada muitos anos antes pelo meu pai, e o conhecimento de alguém sobre fontes disponíveis, que abriu a porta. 

Deixo a sugestão que se não consegue encontrar os batismos ou óbitos que procura nos registos das freguesias de Cedofeita ou Miragaia, não perca mais tempo, nem a esperança. Dê uma olhadela nos registos da capela do Hospital de Santo Antonio, antes de procurar em metade das freguesias do Porto. 

E se as suas buscas estão travadas em qualquer outro lugar, não desista. Pense em possibilidades. Procure e explore os detalhes. Descubra outras fontes. Faça perguntas a quem conhece e pesquisa a mesma localidade. 

Desejos de boas pesquisas. 

Comentários

  1. Anónimo1/9/16

    Boa essa dai. Por isso agente procura e nao encontra eles.
    bjs Ana Clara

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  2. Jose Lage17/10/18

    Eu tenho andado as aranhas a procura da minha avó. Vou seguir esta pista. Bem haja.

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  3. Rute5/5/23

    Eu andei à procura da minha bisavó Ana há muito tempo mas não encontrei nada em Cedofeita. Com este post encontrei em 10 minutos. MUITO GRATA.

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  4. Patrícia Bocaiuva6/5/23

    Perfeito! Não desistir nunca. Sempre há de ter um caminho diferente a percorrer. Parabéns!

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  5. Anónimo13/5/23

    Isto foi escrito em 2009 mas tá muito válido. Muita gente não sabe que estes registos existem. Bem haja.

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  6. Anónimo21/5/23

    Que Deus abençoe sempre vocês que se dedicmm a fazer este trabalho maravilhoso com tanto amor bem hajam muito obrigada pela partilha e ajuda

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