Muitos dos sobrenomes portugueses foram concebidos de forma patronímica, ou seja, são sobrenomes resultantes do nome próprio do pai, onde se acrescentou no final o sufixo -es com o sentido de 'filho de'. Por exemplo, Rodrigues (Rodrigo), Lopes (Lopo), Mendes (Mendo), Gonçalves (Gonçalo), Esteves (Estevo/Estevão), etc. É ainda de notar que inicialmente a Maria filha de Lopo poderia ser conhecida como Maria Lopo. Ou o João fillho de Domingos, ser conhecido como João do Domingos. E mais tarde passarem a ser mencionados como Maria Lopes e João Domingues. Como não poderia deixar de ser, também temos outros sufixos: -iz (Moniz, filho de Monio), e -ins (Martins, filho de Martim).
No entanto, ainda hoje prevalecem alguns sobrenomes que são também nomes próprios, tais como Filipe, Manuel, Afonso, Duarte, Dinis, Adão, Diogo, Lucas, Ambrosio, Vicente, entre outros.
E por sua vez, temos também alguns mas poucos sobrenomes provenientes de nomes próprios femininos, chamados de matronímicos, por exemplo 'da Catarina', 'da Cristina', 'da Joana', 'da Ana', Felicia.
Alguns sobrenomes portugueses parecem estar relacionados com características físicas (Ruivo, Magro, Pé Curto, Branco, Cabeludo, Seis Dedos, Franganito, etc.) enquanto que outros parecem surgir por conta de locais de residencia ou naturalidade, ou seja, de origem toponímica (Carvalho, Cruz, Guimarães, Chaves, Braga, Porto, Portugal, etc.). E quanto aos locais de residencia, refiro-me a lugares dentro da vila ou aldeia, lugares da freguesia que às vezes serviam de ponto de referencia e acabaram por dar origem a sobrenomes, tais como Azenha, Fonte, Feira, Campo, Eira, Rego, Cabo (o extremo da vila), Torre, Torres, Couto, Cercal, Prado, etc. Podem ainda significar posse ou ser o local de trabalho.
Outros sobrenomes ainda nesta categoria seriam: Vale, Ribeiro, Rocha, Costa, Mota, Pedroso, Fragoso, Rio, Terra, Serra, etc. E não podemos esquecer os sobrenomes relacionados com a vegetação no local de residencia, sobrenomes portugueses tão comuns como Silva, Oliveira, Pereira, Pinheiro, Carvalho, além de outros como Matos, Mata, Teixeira (teixos), Cardoso (cardos), Azevedo, entre outros. Ou ainda os sobrenomes relacionados com rios: Ferreira, Mondego, Caima, Dão, Lima, Leça, etc.
Existem ainda os nomes de origem religiosa, ou seja, que manifestam a devoção por parte de quem escolhe o nome (quer seja no batismo ou no casamento) e que com o passar do tempo foram adoptados como nomes de família. Por exemplo, hoje em dia o sobrenome Santos é um sobrenome deveras comum, assim como Jesus e do Espírito Santo. Mas temos ainda das Dores, da Luz, da Conceição (Imaculada Conceição de Maria), da Anunciação (notícia dada pelo anjo Gabriel a Maria), da Assunção (subida do corpo de Maria ao céu), Neves (de Nossa Senhora das Neves), Ramos (Domingo de Ramos), Pascoal (da Páscoa), do Nascimento, dos Anjos, do Rosario, da Trindade, da Graça, Santana (Santa Ana), Baptista (de João Baptista), entre muitos outros por certo.
Há ainda aqueles sobrenomes que surgem por causa das profissões exercidas (Ferreira, Marinheiro, Estanqueiro, Pastor, Soldador, Cardador, Esteireiro, Monteiro, etc.), mesmo que tenha sido num passado longínquo. Criar ou cuidar de determinado animal pode ter contribuido para ser conhecido como Coelho, Cabral, etc. que depois passou a sobrenome.
Outros sobrenomes levam a crer tratar-se de alcunhas que passaram a ser sobrenome. Ou seja, designações que os nossos antepassados "ganharam" e passaram aos descendentes. Por vezes esses "sobrenomes" desaparecem quase tão rapidamente como surgiram e em uma ou duas gerações já não são mencionados nos registos. O sobrenome Maltez, por exemplo, pode ter sido atribuído por a pessoa ter migrado de uma localidade para outra para trabalhar, como de Coimbra para Santarém. Ao consultar dicionários do século XIX o termo 'maltez' aparece como o nome dado aos indivíduos que se deslocavam para trabalhar temporariamente fora da sua terra', provavelmente com o sentido de 'a malta que vem de longe'. Existem ainda outros exemplos tal como Caramelo (termo que aparece nos registos de Setúbal referindo-se a trabalhadores rurais à jorna que para ali se deslocavam anualmente em ranchos e ali ficavam enquanto houvesse trabalho) e Ratinho (termo que aparece nos registos do Alentejo e Ribatejo referindo-se também a jornaleiros temporários das beiras e que se tornou em sobrenome). Há muito que se diga sobre as alcunhas... (use o link para aceder ao post sobre alcunhas).
Temos ainda sobrenomes que derivam de sobrenomes estrangeiros. Trata-se de sobrenomes que assumiram um formato portugues, sendo sonoramente o mais semelhante possível ao original. Foram "adaptados", ou como se costuma dizer, foram "aportuguesados". Por exemplo o meu trisavó Lorentzen era conhecido na sua comunidade como Capitão Lourenço apesar de continuar a assinar como Lorentzen. Outros exemplos que já encontrei foram Ambrozi passar a ser Ambrosio, Meyer aparecer como Maia, etc. É de notar que isto não quer dizer que mudaram de sobrenome mas sim que em algumas instancias eram conhecidos por um sobrenome adaptado à lingua portuguesa, e assim era mais fácil de pronunciar. E por uma razão ou outra os descendentes podem ter adoptado o sobrenome "aportuguesado", mesmo que só por algum tempo.
De certo que existem outros sobrenomes que parecem não se encaixar nestas ditas "categorias". Contudo, deve existir uma história por detrás do nome que nos foi dado e passa de geração em geração. Mas a maior parte dessas histórias já aconteceram há tanto tempo que ficaram como que esquecidas, muitas delas levadas nas memórias dos que já não estão cá para as contar. Talvez alguns de nós nunca venham a entender o porquê do nome que temos. Mas podemos tentar! Boas pesquisas.
Muito bem. Gostei mesmo. Obrigada
ResponderEliminarAdorei. Muitos parabéns. E obrigado pelo tempo que dispende nestas coisas e as ajudas que dá constantemente. Um muito bem haja.
ResponderEliminarAdilia, voce devia dar aulas de genealogia. Eu seria a primeira a me inscrever!! Garanto :)
ResponderEliminarMuito obrigada a todos! É com prazer que partilho estas coisas. E Maria Guerra, já pensei no que sugere mas achei que se calhar não haveria interessados suficientes.
ResponderEliminarConte comigo!! Tenho tanto para aprender e voce para ensinar.
EliminarNão tinha pensado nem em metade do que escreveu.
ResponderEliminarMuito informativo.
ResponderEliminarSoy una privilegiada por poder aprender de vos!! Sos muy generosa. Gracias!!!!!
ResponderEliminarFantastico. Muito obrigado.
ResponderEliminarExcelente. Muito bem explicado.
ResponderEliminarFantastico!! *****
ResponderEliminarPartilhas valiosas. obg
ResponderEliminarSempre a aprender! Obrigado por estas partilhas.
ResponderEliminarMuito bom. Vou partilhar.
ResponderEliminarMuito bom, aprendi bastante hoje.
ResponderEliminarTem como saber a raiz de nomes e sobrenomes africanos?
Agradecida!!!
Bem vinda ao blog. Lamento mas não sei. Talvez dependa do país em Africa. Quando descobrir, partilhe aqui. Fiquei curiosa!
EliminarHola Adilia. Veo que sigue usted en la línea del conocimiento y la generosidad. No se si se acuerda usted de mi. Soy Maria Estrella desde España y tengo el grato recuerdo de que me ayudó usted muchísimo en los inicios de mi investigación, a interpretar letras...a intentar averiguar la filiación de mi abuelo emigrado de Portugal hacia brasil, etc.., (había un problema de legitimidad en sus registros).. Le estoy muy agradecida y le comunico al fin que después de toda una Odisea de búsqueda, he conseguido, por fin conocer su filiación.Al parecer, hubo una legitimación posterior a su nacimiento. Se llamaba Antonio Fernandes Serodio. Saber esto me permitirá buscar su Pasaporte y con suerte, encontrarlo.
EliminarOlá Maria Estrela,
EliminarFico mesmo contente de saber que conseguiu. Parabéns por continuar. Desejo lhe muito sucesso.
Muito grata pelo aprendizado. Que Deus esteja contigo.
ResponderEliminar