Há coisas na vida que nunca é demais dizer. E sei que já há cerca de dois anos escrevi sobre o risco de aceitar registos sugeridos às cegas. mas hoje sinto a necessidade de retornar a este assunto. Deixem-me tentar explicar a minha preocupação.
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Imagem criada por mim usando Image Creator |
Acreditem que eu entendo mesmo bem o entusiasmo pela história da família. Afinal é por isso mesmo que mantenho este blog de genealogia desde 2007. O sentimento que surge quando encontrámos documentos, descobrimos mais uma geração, aprendemos mais um pouco sobre os nossos antepassados é emocionante. E essa emoção faz-nos querer pesquisar mais e mais. E podemos até perder a noção do tempo e continuar a pesquisa até que alguém ou algo nos faça parar!
A percentagem de correspondência entre documentos e perfis - as empresas e organizações por detrás destes sites determinam qual a percentagem de correspondência mínima entre os registos e os perfis para sugerir registos. Não pode ser 100% porque senão qualquer documento que tenha algum dado ligeiramente diferente não seria sugerido como uma possibilidade. Uma percentagem que acredito que faz mais sentido é 80%. E depois cabe a nós os interessados analisar se corresponde ou não. Em resumo, existe à partida 20% de possibilidade de não ser da nossa família.
O algoritmo não é perfeito! - e por essa razão continua a ser melhorado. Eu tenho um par de avoengos, Manuel Teixeira e Maria Pereira, que costumavam ser frequentemente confundidos com outros casais com o mesmo nome. Tive que esperar até o algoritmo do FamilySearch melhorar a análise, e fazer uso também dos locais mencionados nos perfis e as fontes já anexadas com um todo para deixar de receber tantas sugestões que não correspondiam. Perdi a conta a quantos casais com o mesmo nome aparecem em registos em Portugal continental e ilhas, mas que não são os meus Manuel Teixeira e Maria Pereira de maneira alguma.
A leitura automática (também referida como indexação automática) pode conter erros - acho que esta razão é evidente e que não necessita de grande explicação. Acrescento somente que criar formas automáticas de ler documentos históricos que apresentam grafias distintas, em estilos de escrita diferentes e em várias línguas, é uma tarefa hercúlea. Para não falar no estado físico de muitos documentos que dificultam a leitura. Encontrámos erros de leitura automática? Claro que sim, mas tem tudo para tornar-se cada vez melhor.
Nomes semelhantes – É necessário lembrar que os nomes costumavam ser curtos e simples para a maioria das pessoas. Dois nomes somente: nome próprio e nome de família, este último quando havia... Quantos Manuel dos Santos ou José Silva ou Maria Francisca cada um de nós tem na árvore? Pode não ter estes que refiro mas terá outros de certeza. O resultado era haver pessoas com nomes idênticos ou semelhantes e por conta disso podem ser confundidas na pesquisa, especialmente se viveram na mesma área geográfica e período. Lembra-se dos meus heptavôs que referi acima: Manuel Teixeira e Maria Pereira? É isso mesmo.
Parentescos baseadas em suposições – Alguns algoritmos sugerem parentescos familiares sem evidências documentais concretas, mas apenas com base nos padrões estatísticos. O facto de duas pessoas ou mais terem o mesmo sobrenome e viver na mesma área geográfica, por exemplo, pode ser usado para sugerir parentesco mas nem sempre isso corresponde. Ainda hoje há pessoas com o mesmo sobrenome e que vivem na mesma localidade mas não têm parentesco entre si.
Perfis com fontes incorrectas – Os registos podem ser sugeridos erroneamente por conta das fontes já anexadas nos perfis mas que na realidade não são dessas pessoas, mas de alguém com um nome semelhante.
Sugestões para avaliar os registos sugeridos. São só 3:
- Leia o Documento – Procure sempre ler os registos originais, por exemplo, registos de batismo ou nascimento, casamento e óbito, em vez de ficar-se pelas compilações secundárias (extractos, resumos, transcrições, índices, publicações, monografias, etc). Use essas compilações e estudos como ferramentas para encontrar os registos originais. Considere ainda que:
- Há sempre a possibilidade de erro de leitura e de transcrição.
- Além disso, os registos originais podem conter dados que não foram indexados: os locais de nascimento de alguém; um parentesco inesperado mas que foi mencionado no registo (tios, irmãos, etc.), uma testemunha ou padrinho/madrinha que depois se tornou parente. Um outro exemplo valioso deste último ponto: quando nos registos de batismo indica o local onde os pais casaram com a expressão "foram recebidos" seguido do nome da freguesia. Quando os pais casaram noutra freguesia que ainda nem tínhamos "ouvido" falar durante as nossas pesquisas, acredite que esse pequeno detalhe poupa muita dor de cabeça.
Compare as Informações – Verifique se os dados, ou seja, datas, locais e nomes dos parentes, correspondem com o que já foi documentado. Parta sempre do conhecido para o desconhecido!
Considere Múltiplas Fontes – Nunca tenha como base um único registo, se for possível. Procure fontes adicionais que confirmem os dados. Confiar somente num registo e iniciar a pesquisa da próxima geração dessa forma, corre o risco de ter mais tarde "em mãos" parentes que não são seus. Lembre-se que nenhum registo está isento de erros. Não ter isto em consideração pode ainda resultar numa situação de beco sem saída.
Boa tarde,
ResponderEliminarExcelente texto! Inspirador para que, sem precipitações e alguns cuidados, se faça bem 🙂. Obrigado!
Utilizo a plataforma FamilySearche, que muito me tem ajudado na extraordinária viagem de descoberta dos meus antepassados e da sua história.
Só identifico uma pequena dificuldade, que aproveito partilhar: quando estamos a analisar um registo sugerido no FamilySearche, não conseguimos visualizar diretamente a imagem em anexo, mesmo sabendo que a origem da mesma está nos Livros Paroquiais portugueses, cujo acesso é livre através da internet, site tombo.pt. Ajudava imenso se conseguisse-mos visualizar diretamente as imagens, como acontece, por exemplo, com os registos de familiares no Brasil.
Percebo, no entanto, que possam existir constrangimentos processuais ou mesmo legais para que o acesso se possa concretizar. No entanto, isso não diminui nada a excelência da plataforma e só tenho a agradecer.
Mais uma vez muito obrigado pelas dicas e pela inspiração.
Com os meus melhores cumprimentos,
Manuel Picarote
Obrigada pelo comentário. Entendo perfeitamente o que aponta. Foi-me explicado que é por conta das cláusulas contratuais entre os arquivos portugueses e a FamilySearch. Felizmente com os registos de Coimbra e Braga já não acontece isso e ainda bem.
EliminarTalvez eu deva fazer uma publicação um dia destes de como tirar partido das indexações no FamilySearch mesmo assim, explicando como encontrar os registos mencionados nos arquivos portugueses. Tenho feito isso nos grupos de genealogia que pertenço mas não me tinha ocorrido fazê-lo aqui.
Obrigado! Essa publicação será muito bem vinda 🙂.
EliminarAdorei o artigo. Mesmo inspirador. Obrigada.
ResponderEliminarExcelente. Bem didáctico. Eu sou José Silva e tenho mais 4 gerações paternas com o mesmo nome. De certo que houve muitos mais antes de mim. Grato pela partilha.
ResponderEliminarMais explicado não podia estar. Excelente. E já agora, Manuel Marques?! Havia muitos. Agora é que temos mais nomes para distinguir-nos uns dos outros. E por isso é que apareciam as alcunhas. E as alcunhas ficaram a ser nomes de família porque havia muitos nomes iguais. Isto tem que ser com calma e cuidado. Bem haja.
ResponderEliminarEsqueci-me de dizer que adorei a imagem. Fica na memória.
ResponderEliminarExcelente! Não preciso de dizer mais nada, excepto Obrigada!
ResponderEliminarTexto muito didático. Mostra que sabe do que fala.
ResponderEliminarMuito obrigado pela partilha. Muito instrutivo.
ResponderEliminarMuito bom. As sugestões estão no ponto.
ResponderEliminarCom aqueles patos nunca vou esquecer desta publicação :) :) :)
ResponderEliminarMuito bem mesmo. Óptimas sugestões.
ResponderEliminarAnalogia excelente e há coisas que eu não sabia. Grato.
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