Uma das coisas que depressa se aprende na pesquisa dos nossos antepassados é que há coisas que não fazem muito sentido. Outra é que nem sempre temos resposta para tudo.
Nesta semana estava à procura dos registos de batismo dos filhos de um casal e fiquei surpresa quando poucas folhas depois os nomes dos pais se repetiam. Fiz questão de voltar atrás e verificar se eram os mesmos pais e avós. A curiosidade é muita...
Temos então nos registos de batismo de Mértola, no Alentejo, o registo de batismo do Pedro em 5 de Novembro de 1871, que nasceu na Rua da Igreja às 8 da manhã do dia 13 de Outubro (registo número 100).
No mesmo livro, no registo número 110, temos a Leonarda, que nasceu na Rua da Igreja da mesma vila, às 6 horas da manhã do dia 13 de Outubro do mesmo ano de 1871. Mas a Leonarda foi batizada no dia 10 de Dezembro de 1871. Ela é filha dos mesmos pais e tem os mesmos avós paternos e maternos.
Qual terá sido a razão para o Pedro ser batizado no dia 5 de Novembro e a Leonarda no dia 10 de Dezembro? Ambos nasceram no mesmo dia com duas horas de diferença. São 36 dias entre o batismo do Pedro e da Leonarda. Cerca de 5 semanas.
No entanto, na tradição da religião católica, os bebés em risco de vida eram batizados imediatamente. Mas neste caso, o Pedro foi batizado 23 dias depois de nascer.
Poderia pensar-se que a Leonarda é que pode ter nascido com problemas de saúde, que atrasassem o seu batismo até que estivesse suficientemente forte. Mas novamente, a prática religiosa era considerar tal caso uma urgência. Se a Leonarda estivesse doente demais para ser levada à igreja, teria sido batizada ao nascer ou pouco depois, o que poderia até ser feito pela parteira ou outra pessoa presente. Mas ela só foi batizada já com 58 dias de vida.
Um outra possibilidade seria as tradições familiares. Pode haver tradições ou superstições nesta família que influenciaram o momento escolhido para o batismo do Pedro e da Leonarda. Conhece alguma?
As circunstâncias familiares, ou melhor dizendo, a disponibilidade dos envolvidos pode ter sido um motivo forte para a decisão. A disponibilidade dos pais, padrinhos ou até outros familiares importantes pode ter influenciado o dia em que ambos os batismos aconteceram. O Pedro e a Leonarda não tiveram os mesmos padrinhos, e daí talvez a disponibilidade para estar presente e celebrar o acontecimento por cada par de padrinhos justifique 36 dias entre os batismos destes gémeos.
A família do Pedro e da Leonarda pode ter esperado por uma data específica por causa de algum evento familiar, religioso ou da própria vila, e essas datas eram relevantes para a família Vaz.
A conclusão que eu chego é que talvez nunca se saiba porque razão o Pedro e a Leonarda não foram batizados no mesmo dia, e a parte que mais me "incomoda" é não haver menção de serem gémeos em ambos os registos. Sem mais detalhes, resta-me somente especular o porquê. Se pensou em mais alguma possível razão que possa explicar esta situação, deixe em comentários.
Mas não quero terminar sem compartilhar que fui relembrada e aprendi aqui umas "lições" por conta desta situação.
a) A primeira delas é "Como tudo na vida, há sempre excepções à regra".
b) Nem sempre um gémeo está assinalado como gémeo de outro.
c) Ser gémeo não quer dizer que foi batizado no mesmo dia.
d) Quando encontro um registo de batismo não devo passar a pesquisa para o ano seguinte. Andar mais umas folhas para a frente pode dar a conhecer algo inesperado.
e) E há coisas que nunca saberei a razão. Faz parte dos desafios que encontrámos na pesquisa genealógica. Nem sempre encontrámos todas as respostas.
Como sempre, boas pesquisas!
Boa partilha. Eu passo sempre para o livro a seguir. Nem me lmebrei de ver a página seguinte. Mas tem razão.
ResponderEliminarEm regiões onde o clima severo ou a distância dificultam o acesso à igreja, o batismo pode ser adiado.
ResponderEliminarMas em caso de gémeos, porque não batizar os dois no mesmo dia?
EliminarMas como é que isto dificulta a pesquisa?
ResponderEliminarPense no facto de não estar assinalado que é uma criança gémea. O típico na pesquisa é passar para o ano seguinte para continuar a pesquisa de mais filhos. Tendo em conta que há sempre excepções à regra, vale a pena ler mais umas folhas de registos só para ter a certeza que não escapou ninguém ;)
Eliminarok agora já percebo obrigado
EliminarSerá que pensavam que não eram gémeos por serem de géneros diferentes?
ResponderEliminarQue coisa mais estranha. Mas muito grata pela partilha. É sempre bom aprender algo que pode ajudar nas pesquisas.
ResponderEliminarE se for como no meu caso, que eu e os meus primos só fomos batizados quando os meus tios vinham de França visitar a família em Portugal? E alguns de nós levou anos.
ResponderEliminarEstá na possibilidade 3...
EliminarOs tempos são outros mas é uma grande probabilidade.
EliminarSe calhar só cabia um bebé no burrico. Não havia espaço para 2. E uns meses depois levou a menina.
ResponderEliminarTalvez acontecesse em alguns casos mas neste a família Vaz morava na mesma rua que a igreja. Não acredito que o motivo foi a distancia E já pensou porque não dizer que eram gémeos?
EliminarNão tinha reparado nisso. Tem razão, rua da igreja.
EliminarA Adília presta atenção a cada coisa... até ao nome da rua para ver a distancia. Mais uma vez tiro lhe o chapéu!
EliminarObrigada Maria Guerra. Estava só a tentar entender o porquê...
EliminarSerá que achavam que as meninas não precisava de batismo mas os meninos sim?
ResponderEliminarAté hoje não encontrei nada que me fizesse pensar dessa forma.
EliminarMas os batismos acontecem uns dias depois de nascer. No máximo uma semana.
ResponderEliminarNem sempre. E em locais rurais era muito comum ser duas ou três semanas depois. Por vezes até um mês. Já encontrei locais no Alentejo em que a idade no batismo era 4 meses em média e outros passava de 1 ano de idade.
EliminarNunca vi isso.
EliminarSó porque nunca viu não quer dizer que não aconteceu. A forma de fazer as coisas variava consoante a época e o local.
EliminarTenho costados em que os batismo eram em 3 dias, na maior parte 1 semana e outros com 2 meses. Isso varia. Depende se é rural ou não. Pelo menos essa é a minha experiência.
Eliminar"há coisas que nunca saberei a razão". Aí está!
ResponderEliminarRealmente há coisas que nunca vamos saber.
ResponderEliminarVim neste post para agradecer e parabenizar a criadora destes conteúdos que acabo de descobrir, como uma iniciante e viciada em pesquisa genealógica. Nas minhas pesquisas surgem, profissões antigas difíceis de identificar e também os ritos de sepultamento nos óbitos, com número de sacerdotes que acompanharão o sepultamento no interior de igrejas, fica a sugestão para próximos conteúdos. Feliz em descobrir " A Raizes ".
ResponderEliminarObrigada. Boas sugestões. Veja as publicações já partilhadas com as etiquetas "pesquisa", "terminologia", "letras e palavras". Talvez sejam do seu agrado. Boas pesquisas!
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