A genealogia é quase como a caça aos ovos de Páscoa

Na época da Páscoa há várias tradições que resistem ao passar do tempo e às vontades. Desde a comida típica aos doces da altura, desde os presentes oferecidos aos rituais religiosos. Aqui na Inglaterra, é muito comum fazer-se a Caça aos Ovos. As crianças e até o resto da família tentam descobrir os ovos (que costumam ser de chocolate) escondidos no jardim. Durante a caça aos ovos, seguem as pistas dadas em voz alta ou são guiadas pelas sugestões ou adivinhas deixadas à vista em pedaços de papel.

Num dos papéis que me veio à mão à minutos lê-se "Quer saber onde estou, procure onde ainda não procurou". E pronto, comecei a pensar na genealogia... Para dizer a verdade, a genealogia é quase quase como a caça aos ovos de Páscoa. Eles estão em algum lado, nós é que não sabemos onde. 

E abençoadas sejam as pistas e sugestões na pesquisa dos nossos antepassados, que com um pouco de paciência e avaliação podem abrir portas. 

Hoje as crianças correram de um lado para o outro, a espreitar aqui e ali, a resolver as adivinhas e seguir pistas na "Caça aos Ovos de Páscoa" com alguma paciência e muito entusiasmo. Tinham pressa. Queriam mais ovinhos de chocolate. Mas aquela que mais ovinhos encontrou foi a que exerceu alguma paciência e análise. Da mesma forma, a genealogia precisa sempre de paciência e análise como companheiras. Isto porque pesquisar os nossos antepassados com pouca ou nenhuma paciência e análise de sugestões, documentos, histórias, publicações, etc pode levar-nos a árvores que não são nossas e até a pensar que chegou ao fim da linha. 

Ainda há pouco, alguém contactou-me a pedir informações sobre a família portuguesa Totura. A pessoa sabia que eram naturais do Porto e que emigraram para o Brasil entre 1880 e 1900. Tinha recebido sugestões de registos no site que usa para construir a sua árvore mas agora estava perdido pois não encontrava os avós do antepassado nos documentos do arquivo. Como resposta, pedi mais informações, começando pelos documentos obtidos.

Eu tinha várias perguntas em mente e uma das primeiras era considerar se o nome de família seria um erro ortográfico? Seria o apelido Tortura? Antes de presumir seja o que for, o melhor seria ver os documentos já encontrados. Recebi então uma imagem somente com o apelido em pauta, acrescido do  comentário que já foram feitas buscas e nada foi encontrado: "Infelizmente cheguei ao fim. Procurei em tudo que é lugar e não acho nada."

Ora bem, eu não leio Totura. Mas expliquei que precisava ver o documento original e não somente um recorte. Preciso comparar a letra para ter certeza mas a minha leitura inicial aponta para Pereira. 

A resposta não foi bem recebida. Era um nome que não passou para ninguém nesta família, talvez por ser de via materna, mas a convicção era forte quanto ao nome ser Totura. 

Depois de algum tempo recebi o link do registo original e por comparação confirma-se a leitura de Pereira. Se prestarmos atenção à maneira como o escrevente forma a letra T em "Antonio Augusto", o nome de família não pode ser Totura.

Outras partes do mesmo registo atestam a leitura como Pereira. As palavras "proprios", "certidoens" (certidões) e "solteiro", por exemplo, revelam como o escrevente ou o padre costumava formar as letras R e T. Temos então decididamente a família Pereira e não a familia Totura. 

O apelido da mãe valida ainda mais a leitura do nome como Pereira. E com este detalhe corrigido, rapidamente se localizaram os documentos respectivos. Afinal não chegou ao fim. Ainda há muito para descobrir!

Na "caça" aos antepassados faça uso das sugestões e dicas. Quem sabe as portas que podem abrir! Mas lembre-se que os bons genealogistas precisam de ser pessoas pacientes, que prestam atenção aos detalhes. Muitos "ovinhos" sabe mesmo bem mas melhor ainda é ter a certeza que são nossos. Boas pesquisas e boa Páscoa!