Quando a família não é Treta!

Ao pesquisar uma família de Palmela, a terra da sopa caramela, que fica no distrito de Setúbal, encontrei um apelido que saltou à vista. Tínhamos ao que parecia uma família chamada "da Silva Treta". E como sou profundamente curiosa, decidi confirmar se realmente existe tal apelido. Usando a informação indexada, procurei o registo original e cheguei à conclusão que temos um erro tipográfico, a conhecida gralha, ou seja, um erro cometido na criação do abstracto em si. O apelido em causa não pode ser Treta pois como podem ver na imagem abaixo a letra R não está no lugar esperado. No entanto, também não estou convencida que o nome de família seja Tetra


Para resolver a questão, nada melhor do que pesquisar mais registos da mesma família. No assento de batismo do filho Joaquim, o apelido foi indexado como Letra


Mas como ainda não estava confiante que esse era o nome desta família, julguei sensato procurar mais registos para apurar o apelido em estudo. Um ano para trás nos registos paroquiais, num outro registo de batismo, o apelido do filho Manuel surge indexado como Sitra. Dá para entender a leitura feita, quando se compara com a forma como o apelido Silva foi escrito. As letras iniciais são parecidas. Mas será este o apelido?


Três anos antes, noutro registo de batismo, desta vez do filho Theotonio, esta familia surge com o apelido Setra. O que levou a tal leitura foi a letra E na lateral do assento, como pode ver em destaque na imagem abaixo. Mas o registo em si ainda deixa dúvidas.


Então, qual é o nome da família? Treta, Tetra, Letra, Sitra ou Setra? A pesquisa leva-me a mais um documento. O registo de casamento, um ano antes do filho mais velho nascer, revela a assinatura do noivo. E a assinatura esclarece o apelido com uma letra extremamente clara e bem formada.  Inquestionávelmente, temos a família Setra.


Não podemos limitar a nossa pesquisa a um índice. Se eu tivesse ficado pelo índice, acreditaria na Treta. Ou então que era a família Letra ou Sitra. Índices são ferramentas muito úteis, pertinentes na pesquisa de antepassados. Todavia, não podem ser o fim da pesquisa. Devem ser um ínicio. O documento original precisa de ser o objectivo, sempre que possível. O registo em si dá-nos a oportunidade de analisar e esquadrinhar todas as pistas possíveis para progredir na pesquisa. 

E da mesma forma, não podemos limitar a nossa pesquisa a um documento somente. Cada registo, seja qual for o tipo de registo, pode confirmar o que já se sabia, mas também pode acrescentar mais informações ou dicas trazendo à luz algo que era até então desconhecido. Cada registo encontrado pode esclarecer dúvidas ou até causar mais perguntas mas na minha opinião torna a pesquisa mais robusta. 

Não se fique pelo índice ou pelo primeiro documento que encontrar. Divirta-se a descobrir mais documentos. E já agora, boas pesquisas!


Comentários

  1. Maria Guerra19/4/21

    5 estrelas! Foi o que a Dr.a me ensinou desde o ínicio. E a história da família até tem outro sabor. Parabéns.

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  2. Lidia Santos19/4/21

    Adoro ler os seus artigos. Fico sempre motivada para fazer mais e melhor. Obrigada.

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  3. Ricardo Lima19/4/21

    Eu já cometi o erro de ficar pelo primeiro e depois descobri que era a família errada. Tinham o mesm o nome.

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  4. Sopa caramela?! Vou ver no Google. Não conheço Palmela.
    Gostei da partilha. Sempre a aprender.

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