Obituário de Frederick Lorentzen

A Biblioteca Municipal do Porto retirou de consulta vários examplares do jornal "O Comércio do Porto" por conta do mau estado de conservação em que se encontra este periódico. Espero que um dia seja digitalisado para podermos facilmente consultar o que resta, sem danificar mais o que ainda existe. Não só passaríamos a ter acesso a obituários mas um manancial de informação e história que não se pode perder!

No entanto, consegui uma transcrição através de dois historiadores portuenses, Reinaldo Delgado e Francisco Sequeira Cabral, que muito gentilmente me enviaram a informação recolhida tempos antes, e que passo a escrever mais abaixo.

Pode parecer que este tipo de documento pouco importa para a pesquisa da familia. Afinal, não indica os pais ou local de nascimento. No entanto, dá-me a saber factos e histórias do meu trisavô aos quais eu não conseguiria ter acesso hoje em dia. Não tenho conhecimento de um diário ou outro tipo de registo que me dê a conhecer a pessoa que o meu trisavô Frederick era. E até o fiel cão Hans merece menção!

Às vezes, precisámos de tirar os olhos dos registos paroquiais para aprender um pouco mais sobre a vida dos nossos antepassados. Viva os jornais, é o que me apetece dizer!!

"FREDERICK FERDINAND LORENTZEN
Com 78 anos de idade finou-se o Sr Frederick Lorentzen, antigo capitão de mar e que durante muitos anos fora estabelecido com loja de ship-chandler, em cima do Muro dos Bacalhoeiros. O capitão "Lourenço" como geralmente se designava, era conhecidíssimo e muito considerado, tendo sido por largos tempos capitão de navios da casa Andresen.
Quando em Dezembro de 1868 naufragou o patacho "Josephina", em viagem de New York para o Porto, de toda a tripulação apenas puderam salvar-se o capitão "Lourenço" e um dos marinheiros, conservando-se aquele nas águas em luta com as ondas durante 36 horas.
Tinha por esse facto e por muitos outros bem conhecidos das pessoas, que com ele privaram, ganho foros de nadador exímio e de verdadeiro "Lobo do Mar".
Um caso curioso também conhecido pelo menos de toda a gente ribeirinha e que causava o pasmo dos que pela primeira vez visitavam a loja de ship-chandler do capitão Lourenço. Era o seguinte : Tinha um cão tão dócil como inteligente ao qual pacientemente ensinara servir de cicenore aos fregueses. Bastava ao fiel "Hans" - assim se chamava o animal -, fosse ordenado pelo dono que acompanhasse qualquer dos clientes, estando no Porto, ao respectivo consulado, a uma tabacaria ou a um café. O cão ia na frente, cuidadoso e possuído do seu papel, devendo a pessoa por ele guiada segui-lo atentamente.
Se alguem pretendesse falar com o capitão "Lourenço" e encontrasse o cão na rua, perguntava-se pelo amo e rapidamente sabia como encontrá-lo, tendo apenas que segui-lo. O capitão Lourenço chorou a perda deste seu leal amigo e servidor.
Aos genros do finado, Srs. Agostinho Maurício Moreira, Joaquim Thomaz de Brito e Georg Mack e a quanto deixou mágoa o passamento de Frederick Lorentzen, os nossos pesames.
O enterro relizar-se-à hoje pelas 4 horas da tarde no Cemitério de Agramonte.
Filhas e genros
Maria Lorentzen Moreira - Agostinho Maurício Moreira
Luiza Lorentzen Brito - Joaquim Thomaz de Brito
Christina Lorentzen Mack - Georg Mack"

In jornal "O Comércio do Porto", 24.03.1903
 

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